Restauro das Ruínas de São José do Queimado é entregue em Serra
As ruínas de São José do Queimado, importante monumento de resistência à escravidão no Espírito Santo, localizado em Serra-Sede, foram restauradas e serão entregues para a visitação dos capixabas.
O trabalho de resgate do sítio histórico, uma demanda antiga do movimento negro capixaba e de toda sociedade, foi realizado pelo Instituto Modus Vivendi a partir de um acordo de cooperação técnica e financeira assinado entre a Prefeitura de Serra e o Sindicato do Comércio Atacadista e Distribuidor do Espírito Santo (Sincades). As obras duraram pouco mais de um ano e somaram investimentos da ordem de R$ 1,3 milhão.
O projeto objetivou resgatar o monumento, um museu a céu aberto, que guarda a sofrida história de segregação e desumanidade de Queimado. Com sua conclusão, o Sítio se torna ponto de inclusão e educação histórico, antropológico, patrimonial, ambiental e cultural, tendo em vista os marcos da trajetória e da memória de Queimado. O propósito é atrair visitantes, esportistas, estudantes e pesquisadores ao local e constituir um espaço cultural público, democrático e inclusivo. Acessível a todos, o espaço estará disponível para visitação pública a partir da sua inauguração.
O monumento estava em ruínas, sem qualquer condição de visitação, mas, após o restauro, volta a ser um importante propagador da história negra no Espírito Santo. O sítio inclui a Igreja e todo o seu entorno, além do cemitério antigo e paisagismo.
Palco da Revolta do Queimado, quando, em 1849, negros escravizados se rebelaram por não receber a alforria prometida pelo trabalho de construção da Igreja de São José do Queimado, este local se tornou um dos mais importantes marcos da luta dos escravos pela liberdade no Espírito Santo. São heróis desta insurreição Chico Prego, João da Viúva e Elisiário, entre outros negros que, na metade do século XIX, lideraram o grande levante, só debelado com reforços vindos do Estado do Rio de Janeiro. Após conter a revolta, cinco negros foram condenados à morte. Entre eles estavam os principais líderes do movimento, mas, apenas um deles, Elisário, conseguiu fugir e desaparecer nas matas do Morro do Mestre Álvaro.
Segundo o Prefeito da Serra, Audifax Barcelos, ressalta que a restauração do sitio histórico de Queimado tem o objetivo de preservar a história do povo serrano e brasileiro. “Queimado tem uma importância histórica para o movimento negro local e nacional. Preservar essa história é fundamental.”
O presidente do Sincades, Idalberto Moro, diz que o setor atacadista e distribuidor capixaba se sente honrado com a possibilidade de contribuir com esta importante ação de resgate da história do nosso Estado. “Não faz sentido para nós sermos uma importante peça da engrenagem do desenvolvimento econômico do Espírito Santo se não estivermos inseridos em projetos de valorização da cultura e da história dos capixabas. Nossas empresas e nossos funcionários fazem parte disso e o setor entende a importância dessa entrega ao contribuir e fortalecer nossas raízes”, disse.
Segundo Erika Kunkel Varejão, presidente do Instituto Modus Vivendi, o restauro do Sítio Histórico São José do Queimado foi realizado com aprovação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e Secretaria de Estado de Cultura e Prefeitura da Serra.
“O trabalho buscou, essencialmente, garantir a preservação e uso do sítio histórico. As modificações introduzidas, devidamente autorizadas pelo IPHAN, Secretaria de Estado da Cultura e Prefeitura da Serra, foram decorrentes do desgaste ocorrido nas ruínas. Também demandaram mudanças as descobertas arqueológicas registradas durante as obras e os itens arquitetônicos que foram surgindo com a limpeza, como o arco cruzeiro, o piso da nave, a escada, entre outros. Restauro requer sensibilidade, estudo da história, da memória afetiva e estar sempre aberto para as mudanças, pois, a partir da realidade encontrada no espaço, podemos transformar o projeto inicial em um outro, mais rico e interessante. Esse é o caso de Queimado. O local passará a viver um novo ciclo e servirá para contar a história que é sinônimo de luta e resistência no passado. Que possamos, agora, redesenhar o futuro, e que esse presente nos edifique como humanos”, pontua Erika.
Foto: Secretaria de Turismo da Serra